sexta-feira, 13 de julho de 2007

VIVAM AS ESTRADAS ALTERNATIVAS



Paulo Sant'ana - 12/07/2007


Eu já entendo que sem via alternativa não deveria ter pedágio. Mas vá lá que se cobre pedágio em estrada que não tem via alternativa.

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No entanto, havendo a via alternativa, isto é, desvio para outra estrada ou caminho que não é pedagiado, mandar fechar os escapes para as vias alternativas é de uma violência inominável.

É obrigar o usuário da estrada a viajar somente pela estrada pedagiada. Isso me parece altamente suspeito.

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Interessante essa aversão das empresas concessionárias de pedágio pelas vias alternativas.

Não me parece ético querer que se obrigue qualquer motorista a viajar por uma estrada pedagiada, quando ele pode desviar por outro caminho e não pagar o pedágio.

Com que direito pode um governo mandar fechar vias alternativas aos pedágios porque foi pressionado a tal pelas concessionárias, em nome de cálculos atuariais perversos para os usuários?

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Tenho certeza de que, sendo ameaçado de viajar por uma estrada pedagiada, quando teria à sua disposição uma outra estrada não pedagiada, se fosse confrontado com os donos da estrada pedagiada, o usuário lhes diria, olhos nos olhos: "Eu não quero viajar pelas estradas de vocês, eu me sinto esfolado com o pedágio que vocês e o governo me impõem. Eu quero viajar pela outra estrada, a que não é pedagiada, mesmo que ela me ofereça condições inferiores. Porque acho o preço que vocês nos cobram e o governo nos impõe injusto, iníquo, desumano. Deixem que eu viaje pela estrada que eu quiser. Não se metam com minha vida nem com minhas escolhas. Eu sei quais são os caminhos mais convenientes para mim!".

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É muito desagradável, para não dizer malcheiroso, que se queira fechar estradas alternativas aos pedágios.

Para mim, é a mesma coisa que fechar um Postão do SUS para que todas as pessoas sejam atendidas pelos convênios de saúde. É uma arbitrariedade.


Não desconfio da atitude anunciada pela governadora Yeda Crusius para solução do impasse do pólo rodoviário de Caxias do Sul.

Tenho convicção de que a governadora anunciou um acordo com a concessionária de pedágios Convias munida do mais alto e puro espírito público, tentando solucionar um impasse delicado entre a concessionária e os usuários mais freqüentes daquela região.

Eu até simpatizei muito com um dos pontos do acordo anunciado pela governadora: a isenção de 50% nas tarifas para moradores adjacentes a pelo menos um posto de pedágio, se não for mais de um.

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No entanto, não simpatizei nenhum pouco com outro ponto do acordo anunciado: o de que serão bloqueados alguns trechos de estradas que permitem aos motoristas contornar as praças de pedágio.

Mas como? Benditos os trechos em que os motoristas podem contornar as praças de pedágios!

Fechá-los é uma violência. É decretar que só se pode trafegar na região se pagar pedágio, quando a vocação viária daquele pólo é de multiplicidade de caminhos.

Seria uma utilização (manipulação) pérfida do poder público para favorecer a concessionária, ou seja, o governo remetendo todos os motoristas para as cancelas de pedágio, como bois para o matadouro, quando as estradas alternativas estavam abertas para todos fugirem do confisco.

Não há nada mais fenomenalmente perverso que um governo ordenar o fechamento de saídas para estradas alternativas ao pedágio.

Um governo tem o dever original de abrir trechos de estradas, de abrir ou manter abertas saídas de estradas.

Se ele as fechar, para pedagiar os motoristas encurralados, estará traindo seu povo.

Confio, então, em que a governadora reflita sobre isso e seja bem-sucedida na sua missão e intenção de defender os usuários, ou seja, seu povo.

São intocáveis as vias alternativas.

Qualquer acordo que as bloqueie é deletério.

psantana.colunistas@zerohora.com.br

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