quarta-feira, 18 de abril de 2007

MST LEMBRA MASSACRE CONTRA SEM-TERRA E OCUPA PEDÁGIOS


O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) ocupou ontem 25 das 27 praças de pedágio das rodovias paranaenses. O objetivo era lembrar a morte de 19 sem-terra, assassinados em um confronto com a polícia em Eldorado dos Carajás, no Pará, em 1996. Diversos outros estados também tiveram manifestações semelhantes. No Paraná, os sem-terra chegaram às praças de cobrança no início da manhã. Em nenhuma das praças houve confronto. Os funcionários das concessionárias que fazem a cobrança saíram pacificamente de seus postos. Segundo o MST, o movimento prometeu devolver os lugares hoje à tarde, limpos e da maneira como foram encontrados. Em todas as 25 praças, os manifestantes ergueram as cancelas e permitiram que os motoristas passassem sem pagar a tarifa. Só no trecho da rodovia BR-277, que liga Curitiba ao litoral, estima-se que 12 mil veículos tenham passado pelas cancelas erguidas. Aos motoristas, os sem-terra entregavam material de divulgação e vendiam bonés, bandeiras e comida. Apenas os postos de cobrança na PR-151, em Jaguariaíva, e na BR-373, em Imbituva, não tiveram a liberação do pagamento da tarifa. As concessionárias foram à Justiça para conseguir a liberação das praças. Até o início da noite, já havia ordem de desocupação de 16 praças, mas apenas as praças localizadas nos arredores de Prudentópolis, Laranjeiras de Sul e a de São José dos Pinhais, no trecho que liga Curitiba às praias, haviam sido desocupadas. Na praça do litoral, os sem-terra receberam a informação judicial de reintegração de posse, mas se recusaram a sair. Mais tarde, porém, acabaram desocupando a praça. O MST informou durante o dia que a intenção era dormir nas praças e só deixar os locais na tarde de hoje. Além de lembrar o episódio de Eldorado dos Carajás, os manifestantes disseram que também pretendiam cobrar agilidade na reforma agrária. Existem 8 mil famílias acampadas no Paraná aguardando a reforma agrária. “Os eixos do movimento são ‘reforma já’, ‘a Vale [do Rio Doce] é nossa‘ e ‘pedágio é roubo’. Escolhemos as praças porque temos uma boa relação com os caminhoneiros e para sensibilizar a opinião pública”, afirmou José Damasceno, membro da coordenação estadual do MST. O presidente da Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias, João Chiminazzo Neto, destacou que acompanhou o noticiário nacional sobre as ações do MST e só no Paraná o protesto se voltou para as praças de pedágio. Ele reforçou que as empresas possuem sistemas de segurança para contar os veículos que passaram sem pagar a tarifa e que devem pedir indenização pela receita perdida com a ocupação. Em Cascavel, a Jornada de Lutas pela Reforma Agrária foi marcada também por um ato público no Centro da cidade, na praça da Catedral Nossa Senhora Aparecida. No local, cerca de 400 assentados e sem-terra expuseram alimentos produzidos nos assentamentos da região e depositaram 19 cruzes de madeira na calçada, para simbolizar as vítimas de Eldorado de Carajás. A manifestação mostrou que o descontentamento do MST é cada vez maior em relação à atual política de reforma agrária do governo Luiz Inácio Lula da Silva. “O processo de seleção de famílias está paralisado. Não se obtêm novas áreas para desapropriação e nem recursos para melhorar a infra-estrutura dos assentamentos”, disse Oiti Finkler, assentado no projeto de reforma agrária Santa Terezinha, interior de Cascavel. De acordo com ele, os assentados têm muitas dificuldades para obter linhas de créditos para investimento e habitação nos assentamentos.Para dificultar a identificação dos integrantes do MST, câmeras de vídeo das praças foram cobertas com sacos plásticos, vedadas com adesivos ou quebradas. Dezenas de bandeiras do movimento e com a estampa de Che Guevara deram o tom do protesto. A maioria dos motoristas buzinava e incentivava os manifestantes.“Seria excelente se todos os dias eles ocupassem as praças, os motoristas iriam agradecer”, diz o motorista de caminhão Ivanildo Costa de Oliveira, que ontem deixou de pagar R$ 34,80 de pedágio de seu caminhão. “Esse pedágio também é um massacre”, afirmou Oliveira.

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