domingo, 3 de junho de 2007

PIZZA COM CHIMARRÃO


Paulo Sant'ana - 01/06/2007 - Zero Hora
Pizza com chimarrão
A síndrome da pizza que exala desde o Senado, com um pedido de investigação sobre a denúncia de que o senador Renan Calheiros tinha uma pensão alimentícia de seu dever paga por uma empreiteira, com meticulosa escolha do senador Sibá Machado (PT-AC), ostensivamente aliado de Renan, para presidir os atos investigatórios, se alastra aqui para o Rio Grande, segundo declarações do deputado estadual Francisco Appio (PP). Appio afirma peremptoriamente que a CPI dos Pedágios, instalada sob estranha tensão e tropelia na Assembléia esta semana, é "chapa-branca", o que é também a opinião de vários outros deputados.
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O que o deputado Appio quer dizer é que vários deputados se recusaram a assinar o requerimento para instalação da CPI. Ou seja, eram contrários a uma investigação sobre os preços atuais do pedágio e outros aspectos das concessões. Mas como a CPI foi instalada contra a vontade deles e sem sua assinatura, imediatamente se penduraram na CPI e conseguiram tornar-se seus membros. Em suma, cobraram o escanteio e correram para cabecear a bola lá na área.
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Mais: esses deputados receberam auxílio eleitoral das concessionárias de pedágios. Nada contra o auxílio para campanha eleitoral, previsto na legislação e expediente absolutamente lícito. Mas se um deputado recebeu auxílio eleitoral de R$ 100 mil das empresas concessionárias dos pedágios, quando se fere uma CPI em que de um lado está o usuário dos pedágios e do outro as concessionárias, com os governos sucessivos tendo papel que teria de ser arbitral mas na CPI vai ser apurado se não é dúbio, teria de ter a cautela e pudor éticos de não participar da CPI. Nada disso. A causa da revolta do deputado Appio é que os deputados que receberam auxílio eleitoral das concessionárias, mal se instalou a CPI, foram assumir seus postos nela. E foi escolhido como relator um desses deputados. Não só isso: os partidos dos deputados que receberam auxílio eleitoral das concessionárias já tinham de ter o cuidado de não designá-los para integrar a CPI, não que eles possam vir a ser parciais a favor das concessionárias, mas para livrá-los e protegê-los da mácula da suspeição.
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Temos então que uma pizza foi montada no Senado para livrar Calheiros. E podem apostar que outra pizza acaba de ser engendrada aqui na CPI dos Pedágios. Os usuários dos pedágios, inconformados com os preços das tarifas que lhes são cobrados e com trechos pedagiados que consideram indevidos, por quem serão defendidos em seus interesses nessa CPI em que até se tirou o direito ou a faculdade razoável do presidente da CPI, deputado Gilmar Sossella (PDT), de conduzir a votação para escolha do relator? Será possível que numa Assembléia representativa especialmente da sociedade pedagiada não se tenha dado chance matemática de defesa aos usuários? Será possível? Se não forem imediatamente corrigidos esses imensos óbices éticos, que os gaúchos se preparem inevitavelmente para saborear nos dias próximos uma gigantesca e lamentável pizza com chimarrão.
psantana.colunistas@zerohora.com.br

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